domingo, 8 de fevereiro de 2009

“Um dia, quando eu era caloiro na escola, vi um miúdo da minha turma a caminhar para casa depois da aula.
O nome dela era Kyle. Parecia que estava a carregar os seus livros todos.
Eu pensei:
-"Porque é que leva para casa todos os livros numa sexta-feira? Ele
deve ser mesmo um marrão."
Como já tinha o meu fim-de-semana planeado (festas e um jogo de futebol com meus amigos no sábado a tarde) encolhi os ombros e segui o meu caminho.
Conforme ia caminhando, vi um grupo de miúdos a correr na direcção dele.
Eles atropelaram-no, arrancando-lhe todos os livros dos braços e empurraram-no, de tal forma que ele caiu no chão.
Os seus óculos voaram, e eu vi-os aterrarem na relva a alguns metros e onde ele estava. Ele ergueu o rosto e eu vi uma terrível tristeza nos seus olhos. O meu coração penalizou-se por
ele. Então, corri até ele enquanto ele gatinhava à procura dos óculos, e pude ver lágrimas nos seus olhos.
Enquanto lhe entregava os óculos, eu disse:
-"Aqueles tipos são uns parvos. Eles deviam era arranjar uma vida própria". Ele olhou para mim e disse:
-"Ei, obrigado!"
Havia um grande sorriso na sua face. Era um daqueles sorrisos que realmente mostram gratidão. Eu ajudei-o a apanhar os livros, e perguntei-lhe onde morava.
Por coincidência ele morava perto da minha casa, então eu perguntei como é que nunca o tinha visto antes. Ele respondeu que antes frequentava uma escola particular.
Conversámos todo o caminho de volta para casa, e carreguei-lhe os livros.
Ele revelou-se um miúdo muito porreiro. Perguntei-lhe se queria jogar futebol no Sábado comigo e com os meus amigos, ele disse que sim.
Ficamos juntos todo o fim-de-semana e quanto mais eu conhecia Kyl
e, mais gostava dele. E os meus amigos pensavam da mesma forma.
Chegou a Segunda-Feira, e lá estava o Kyle com aquela quantidade imensa de livros outra vez.
Parei-o e disse:
-"Diabos, pá, vais fazer o quê com os livros de novo?"
Ele simplesmente riu e entregou-me metade dos livros. Nos quatro anos seguintes Kyle e eu tornámo-nos melhores amigos.
Quando nos estávamos a formar começámos a pensar na faculdade.
Kyle decidiu ir para Georgetown, e eu ia para a Duke.Eu sabia que seríamos sempre amigos, que a distância nunca seria um problema. Ele seria médico, e eu ia tentar uma bolsa escolar na equipa de futebol. Kyle era o orador oficial da nossa turma. Ele teve que preparar um discurso de formatura. Eu estava super contente por não ser eu a subir ao palanque e discursar.
No dia da Formatura eu vi Kyle. Ele estava óptimo. Ele estava mais encorpado e realmente tinha uma boa aparência, mesmo usando óculos. Ele saía com mais miúdas do que eu,
e todas as raparigas o adoravam!
Às vezes eu até ficava com inveja. Hoje era um desses dias. Eu podia ver o quanto ele estava nervoso por causa do discurso. Então dei-lhe uma palmadinha nas costas e disse:
-Ei, rapaz, vais-te sair bem!
Ele olhou para mim com aquele olhar (aquele olhar de gratidão) e sorriu.
-"Valeu, disse ele."
Quando ele subiu ao oratório, limpou a garganta e começou o discurso:

-"A Formatura é uma época para agradecermos aqueles que nos ajudaram durante estes anos duros. Aos pais, aos professores, aos irmãos, talvez até a um treinador. Mas principalmente aos amigos. Eu estou aqui para lhes dizer ser um amigo para alguém é o melhor e que se pode dar.
Eu vou-lhes contar uma história.
Eu olhei para o meu amigo sem conseguir acreditar enquanto ele contava a história sobre o primeiro dia em que nos conhecemos.

Ele tinha planeado suicidar-se naquele fim-de-semana.
Contou a todos como tinha esvaziado o seu armário na escola, para que a mãe não tivesse que fazer isso depois de ele morrer, e estava a levar as suas coisas todas para casa. Ele olhou directamente no meus olhos e deu-me um pequeno sorriso.
-"Felizmente eu fui salvo. O meu amigo salvou-me de fazer algo inominável".
Eu observava, com um nó na garganta, todos na plateia, enquanto aquele rapaz popular e bonito contava a todos aquele seu momento de fraqueza. E vi a mãe e o pai dele a olharem para mim e a sorrir com aquela mesma gratidão.
Até aquele momento eu nunca me tinha apercebido da profundidade d
o sorriso que ele dirigiu naquele dia.”


Nenhum comentário: