quarta-feira, 3 de dezembro de 2008



"A que se deve a cegueira que nos vira para dentro e destrói? Será que o egoísmo nos cega e separa do mundo à nossa volta? Creio que este filme nos coloca perante esta questão, por todos nós vivida e experimentada nas relações que temos no nosso quotidiano.

Em Ensaio sobre a Cegueira, vemos uma cidade onde uma epidemia se espalha pelos seus habitantes. Questionamos-nos se somos nós quem está ali representado. Esta metáfora da sociedade, aliás, é propositada e assumida. Perante a falta de visão, perdem-se os padrões morais e as personagens caiem em extremos onde o individualismo impera. O individualismo desumaniza porque nós, humanos, não somos como ilhas isoladas. Os outros constituem parte da nossa própria essência. Pode ser uma visão perversa e distorcida do homem, pois lembra-me episódios históricos como o Holocausto.

Entre os cegos, porém, há uma personagem que vê. Hesitamos a compararmo-nos a ela. Apesar de ter o dom da vista, vê aquilo que não queria ver. Penso ser este, às vezes, e em momentos de menos esperança, o dilema de uma pessoa lúcida, que procura a verdade onde ela está.

Apesar de tudo, mesmo no meio deste inferno, vislumbramos um pequeno pedaço de Céu: não mais do que dois minutos, onde o verdadeiro bem-estar reina ao som de uma música e da voz de um velhinho simpático. Os afectados por esta cegueira, cansados, sossegam… "

João Pupo

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